Catracas para entrar em Veneza?
- gabriela3852
- 23 de jul. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 15 de set. de 2021

Veneza é, sem dúvida, uma das cidades mais turísticas do mundo. Porém, receber 25 milhões de pessoas por ano tem seus efeitos colaterais e divide a opinião dos moradores da cidade. Existem aqueles que defendem o alto fluxo de turistas, afinal, é a grande fonte de renda da cidade. Porém, existem aqueles que preferem uma limitação, argumentando que enquanto os turistas se divertem, os moradores suportam o ônus das contas de limpeza, segurança e manutenção do patrimônio histórico.
O fato é que o número de moradores vem diminuindo drasticamente: de cerca de 175 mil habitantes do pós-Segunda Guerra Mundial para aproximadamente de 50 mil hoje em dia. Em contraponto, a rede Airbnb conta com 8 mil apartamentos na cidade.
O prefeito de Veneza Luigi Brugnaro defende publicamente a limitação do número de turistas no centro histórico da cidade, fazendo declarações polêmicas e apresentando com frequência projetos nesse sentido. Um dos projetos que estava em discussão seria a cobrança de uma taxa de entrada de 8 euros por pessoa, que entraria em vigor ainda neste verão. A medida não foi aprovada e a sua análise foi postergada para 2021 por causa do Covid-19.
De acordo com a Secretaria de Turismo de Veneza, dentre os 25 milhões de turistas por ano, aproximadamente 14 milhões não pernoitam na cidade, não pagando impostos. É comum na Europa que cidades históricas cobrem uma taxa por pessoa, por noite, para a manutenção da cidade. Não é um valor expressivo (normalmente entre 2 e 5 euros), porém se multiplicado por milhões de turistas, representa uma receita importante. O que ocorre na prática é que esses 14 milhões de pessoas que visitam, mas não pernoitam na cidade, acabam não pagando essa taxa e é justamente esse o argumento utilizado para defender o projeto de Brugnaro.
Recentemente, a ideia voltou à tona quando o prefeito anunciou uma nova proposta: a instalação de catracas automáticas em todos os acessos do centro histórico da cidade, mais uma vez com o objetivo de arrecadar e controlar o fluxo de turistas. A proposta divide a opinião dos moradores da cidade e está sob discussão.
As críticas são pesadas, principalmente por parte daqueles que dependem do turismo para sobreviver. No último ano, o número de turistas em Veneza diminuiu muito, impactando economicamente a cidade. Vamos lembrar que em novembro de 2019 a cidade sofreu com enchentes e alagamentos por semanas, o que destruiu parte do patrimônio histórico e afastou turistas. Atualmente, a cidade amarga com seus canais vazios, consequência do Covid-19.
Particularmente, não acredito que essa nova proposta de Brugnaro será aceita. Para além da discussão moral sobre limitar a livre circulação de pessoas, quem já esteve em Veneza sabe que é simplesmente impossível pensar em catracas na entrada da cidade. O número de pessoas indo e vindo é alto, catracas causariam filas intermináveis e seriam um impacto negativo logo nos primeiros instantes de chagada na cidade.
O turismo de massa é ao mesmo tempo um problema social e uma solução econômica. Logo, é preciso ser coerente. Veneza é um patrimônio histórico único e merece respeito, mas existem outras maneiras de arrecadar as taxas necessárias para a administração e manutenção do centro histórico muito mais elegantes do que tratar a cidade como se fosse uma linha de metrô.
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