O sequestro de Silvia Romano e a libertação de Aisha
- gabriela3852
- 6 de jun. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 22 de set. de 2021
No último domingo, dia 10 de maio, Silvia Romano, natural de Milão, retornou para a Itália.

(Imagem: milano.repubblica.it)
A jovem de 25 anos foi raptada no Quênia, em novembro de 2018, pelo grupo terrorista Al-Shabaab - ligado ao Al-Qaeda - enquanto trabalhava voluntariamente através da organização italiana Africa Milele Onlus. Após 18 meses e intensa negociação envolvendo a inteligência Turca e os governos da Itália e Somália, a jovem foi liberada.
Uma onda de afeto surgiu na Itália, especialmente em Milão, no bairro onde mora a família da jovem. Finalmente, uma boa notícia! Porém, ao ser fotografada na sua chegada em Roma, o sucesso da operação dividiu ferozmente opiniões. Silvia estava usando – além de máscaras e luvas – o hijad, traje típico de mulheres muçulmanas, e afirmou com suas primeiras palavras que estava bem, física e mentalmente, e que queria estar com a sua família.
Durante o trajeto da África para a Europa, Silvia foi acompanhada de uma psicóloga, a quem contou que após o sequestro enfrentou uma exaustiva jornada do Quênia até a Somália, quando caminhava cerca de 10 horas por dia. Disse que as primeiras semanas foram as mais difíceis, mas que os sequestradores jamais a machucaram ou violentaram, e que não faltava comida.
Não havia outras mulheres, apenas Silvia. Um dos sequestradores falava um pouco de inglês e atendeu ao pedido de Silvia de ter um caderno, que acabou virando seu diário, mas que não pode levar consigo em liberdade. A jovem pediu também um livro, e recebeu o Alcorão. Silvia se converteu ao Islã, agora se chama Aisha. Afirma que a sua conversão foi um processo longo e lento, mas sincero após conhecer a cultura e aprender árabe.
Não ficou claro o acordo feito entre o governo italiano e o grupo Al-Shabaab, mas segundo o Giornale de Puglia, o governo italiano teria pagado 3 milhões de dólares aos terroristas. O jornalista Vittorio Feltri, do jornal Libero, está fazendo críticas abertas contra a operação, atacando o resgate dizendo que o cativeiro da jovem seria “uma espécie de paraíso terrestre” e que se Silvia estava bem na África, que lá ficasse, pois não haveria motivo para financiar um grupo terrorista.
Aqui na Itália não se fala de outra coisa! A família Romano recebeu milhares de mensagens de apoio, e ao mesmo tempo milhares de mensagens de ódio a jovem e a religião Islâmica. O perfil do Facebook de Silvia Romano foi desativado após incessantes ameaças.
Em um país que amarga o colapso sanitário e econômico causado pelo Covid19, a liberação da jovem através de pagamento de dinheiro a um grupo terrorista islâmico já causaria polêmica, por si só. A chegada de Silvia em – aparentes – boas condições de saúde, usando um hijab e convertida ao islamismo foi suficiente para trazer à tona o questionamento sobre o custo financeiro do resgate.
A conversão de Silvia em Aisha permanece um mistério, mas talvez seja um caso Síndrome de Estocolmo, quando o sequestrado desenvolve uma identificação emocional com o sequestrador. Francesca Fumagalli, mãe da jovem, afirmou que qualquer pessoa após ser sequestrada por quase dois anos e viver uma experiência traumática retornaria convertida, e acrescentou “usate il cervello” (usem o cérebro).
Enquanto o resto do país discute ferozmente se jovem merecia ou não o resgate, Silvia/Aisha passa bem, está cumprindo os 14 dias de isolamento - conforme estabelecido para todos os cidadãos que chegam do exterior.




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